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quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Editorial: A Lava Jato e a República das dentaduras

Com o título acima, acompanhe o editorial publicado pelo site Repórter Ceará:

Está em curso no País a maior Operação de combate à corrupção da história. Com quase quatro anos de atividades de investigação de ilícitos envolvendo partidos políticos e grandes empreiteiras nacionais, a Lava Jato está oferecendo aos brasileiros a oportunidade de mudar a cultura da corrupção que há séculos dita as relações de poder por aqui. A porta aberta pela Operação dará aos eleitores, no próximo ano, a chance de escolher entre duas opções: ruptura ou continuidade.

Nascida de uma investigação em uma rede de postos de combustíveis no sul de Brasília, a Lava Jato ganhou notoriedade nacional e internacional ao atingir o coração da Petrobras – a maior estatal brasileira – e ao colocar sob a mira dos investigadores do Ministério Público e da Polícia Federal, e até mesmo atrás das grades, alguns dos membros mais poderosos da elite política e econômica do País.

Nomes como Marcelo Odebrecht, Joesley Batista, José Dirceu, Eduardo Cunha, dentre outros tantos investigados e condenados no âmbito da Operação Lava Jato, mostram que o Brasil está conseguindo, aos poucos, mudar a cultura de impunidade em favor dos poderosos.  Em um único ano, a mesma Operação produziu dois feitos inéditos: um ex-presidente da República foi condenado por crime comum e um presidente em exercício foi denunciado por corrupção.

Outro feito inédito ocorreu há quinze dias, quando a Polícia Federal (PF) encontrou o montante de R$ 51 milhões distribuídos em oito malas e seis caixas de papelão em um apartamento em Salvador ligado ao ex-ministro Geddel Vieira Lima. Essa foi a maior apreensão em dinheiro já realizada no País. Mesmo com a ajuda de sete máquinas, os policiais federais gastaram 14 horas para contar a dinheirama.

Nesse mesmo cenário de combate à corrupção, na última semana a PF deflagrou no Ceará a Operação Fraternidade, que apura irregularidades em licitações realizadas em 171 municípios do Estado, ou 93% do total. Iniciada a partir de um levantamento da Controladoria Geral da União (CGU), as investigações da “Fraternidade” indicam que aproximadamente R$ 380 milhões foram desviados entre os anos 2002 e 2013.

Mas os sucessivos e surpreendentes casos de corrupção revelados recentemente não mudaram a lógica que rege as relações entre eleitor e candidato em muitas regiões do País. Nos lugares mais distantes dos grandes centros urbanos ainda prevalece a prática “clientelista” típica do coronelismo vigente no século passado. Em troca de votos, os candidatos oferecem aos eleitores (seus clientes) tijolos, sacos de cimento, empregos na administração pública e até mesmo dentaduras.

É com tristeza que a socióloga Maria Lucia Victor Barbosa relata em seu livro A pobreza do voto (e o voto da pobreza), de 1988, a troca de votos por dentaduras na região do Cariri. Ela escreve: “No caso das dentaduras, o eleitor na fila vai provando, uma a uma, até encontrar a que lhe encaixe na boca. As outras voltam para uma lata d’água, à espera do próximo cidadão”.

Dona Luiza (nome fictício), 57 anos, contou à redação do Repórter Ceará que tinha um sorriso acanhado até receber a dentadura prometida pelo seu candidato vitorioso no pleito do ano passado. Agora ela faz questão de mostrar os novos dentes. “Agora eu sinto prazer em sorrir. Meu marido me olha com outros olhos.”, comentou a dona de casa. Casos como o da dona Luiza são típicos da República das dentaduras, regime ainda em voga neste País.

Quando o voto se torna moeda de troca e, por meio deste, políticos corruptos chegam ao poder, toda uma sociedade é prejudicada. A Odebrecht, por exemplo, confessou em abril que pagou nos últimos oito anos R$ 10 bilhões em propinas a políticos de diferentes legendas. Com esse vultoso valor o governo conseguiria construir 66 hospitais do mesmo modelo do Hospital Regional do Sertão Central (HRSC), ou 5.421 creches, que atenderiam 867.360 crianças. Com a mesma quantia seria possível comprar 83.944 ambulâncias ou 55.257 ônibus escolares.

Nas eleições de 2018, o povo decidirá se quer a continuidade ou a ruptura da República das dentaduras. A Lava Jato e outras grandes operações de mesmo caráter estão vencendo a cultura da impunidade, mas a cultura da corrupção só será vencida nas urnas. É hora de mudar o País! E, para tanto, é preciso enterrar a política de favores que domina, não só as relações entre ricos e pobres, mas também a relação entre ricos e poderosos. Entender que um voto vale mais que uma dentadura, ou qualquer outra benesse, já é o começo da mudança!

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