REDIRECIONAMENTO

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Opinião: O retrato que a pesquisa quis tirar

Artigo do colunista Fábio Campos publicado na edição deste domingo, 13, no Jornal O Povo:

A primeira pesquisa acerca da disputa eleitoral de Fortaleza foi uma encomenda do PSB. O partido economizou ao pagar ao Ibope por uma consulta com uma amostra pequena. Apenas 504 eleitores foram entrevistados.

É óbvio que a encomenda responde a um interesse político. A pesquisa foi registrada na Justiça Eleitoral. Portanto, com permissão legal para ser divulgada. E era esse o objetivo. Não interessava uma pesquisa para alimentar exclusivamente o partido.

E qual o maior interesse político da pesquisa do PSB? Simples: mostrar ao público em geral e, particularmente, ao mercado político o tamanho da rejeição à gestão de Luizianne Lins e o rebaixado potencial eleitoral do nome preferido pela prefeita para disputar a sucessão.

Trocando em miúdos, o objetivo é fragilizar as posições da prefeita junto ao próprio partido e junto aos aliados. Os resultados também oferecem fatos objetivos (e de conhecimento público) para rechear os discursos de separação entre o PSB e o PT.

Nada que as pesquisas do Palácio Abolição, que não vive sem elas, já não soubessem. Nada que o Palácio do Bispo também não tivesse pleno conhecimento. Ou seja, a pesquisa serve apenas para cumprir uma tarefa peculiar ao jogo político.

E assim é com toda e qualquer pesquisa realizada a essa altura do campeonato. No que diz respeito aos pré-candidatos, as consultas de opinião são a serventia para animar ou desanimar a militância, que adora (e isso é parte do jogo) se enganar com os números. Nesse ponto, os líderes das manadas sabem conduzir bem.

Outra função da pesquisa prematura: oferecer à voz de comando justificativas para futuras escolhas. O comando do PSB precisa de um bom argumento para levar, por exemplo, a Brasília explicações plausíveis e objetivas sobre suas motivações para romper e lançar nome próprio.

Pelo seu poder de expor um retrato real da disputa, as pesquisas que valem são aquelas que irão abordar os eleitores (cerca de mil deles) com a cartela oficial de candidatos. Isso é coisa somente para o início julho. Hoje, nem sequer há uma disputa.

A PESQUISA DE DEZEMBRO
Curiosamente, desde dezembro, o Ibope já tinha em casa pesquisa que oferecia uma resposta à questão que mais interessa ao PSB. Ninguém deu atenção, mas, entre 03 e 06 de dezembro, a pedido do Grupo Bandeirantes de Comunicação, o instituto foi às ruas para avaliar o modo como 406 eleitores viam a gestão de Luizianne. Uma diferença de somente cinco meses entre uma e outra consulta.

Resultado: 30% dos eleitores avaliavam sua gestão como boa ou ótima, enquanto 32% a qualificavam como ruim ou péssima. Ou seja, um eleitorado dividido nos extremos. A sentença final caberia aos 38% que a consideravam regular.

Comparem os resultados das duas pesquisas: Luizianne tinha 5% de “ótimo” em dezembro. Hoje tem 3%. 25% diziam que sua gestão era “boa”. Hoje são 17%. 38% a consideravam regular em dezembro contra os 32% de hoje. O índice de “ruim” era 8%. Hoje, é 12%. 24% consideravam sua gestão péssima contra os 36% de agora.

Portanto, a pesquisa do PSB, feita no final de abril, tem resultados mais duros para Luizianne que a pesquisa da TV Bandeirantes, realizada em dezembro. Outro dado: sua “aprovação” era de 46% e passou para 30%. Sua “desaprovação” era 51% e passou para 66%.

Detalhe: os últimos meses foram marcados por publicidade em massa dos feitos municipais. Ou Ibope entra em acordo com o Ibope ou a avaliação da gestão da petista piorou significativamente no período de cinco meses.

NOVA LINHA PARA AS PESQUISAS
As pesquisas quantitativas são apenas referências momentâneas e instrumentos auxiliares da tomada de decisão. Porém, a fragilidade partidária do País fez com que elas ganhassem uma dimensão que não se repete em nenhuma outra nação democrática.

As consultas de opinião chegam, muitas vezes, a substituir o próprio partido. É comum ouvirmos políticos a clamarem por pesquisas como uma espécie de “instância” de decisão partidária. Tipo assim: “Será o candidato aquele melhor colocado nas pesquisas”. Isso não é bom.

As consultas de opinião poderiam dar uma contribuição bem mais positiva à nossa política. Na hora de perguntar sobre os problemas mais graves que afligem o cotidiano dos eleitores, elas caem no lugar comum. O resultado óbvio é: saúde, segurança, educação...

No que diz respeito à gestão das grandes cidades, as melhores perguntas costumam ser as que jamais são feitas. A saber: na sua opinião, um prefeito precisa fazer com que todas as regras urbanas sejam rigidamente seguidas?

Que tal perguntar aos eleitores se eles querem que a cidade ponha em prática projetos como o “cidade limpa”, que varreu a poluição visual de São Paulo. E sobre a ocupação de praças, ruas e calçadas pelo
comércio pirata?

Questões como essa poderiam ajudar muito os candidatos e a cidade a assimilarem, sem medos, ações administrativas de grande relevância fugindo do lenga-lenga tradicional.

NUNCA ANTES NESTE PAÍS
Vejam como estão as coisas no Brasil: a CPI do Cachoeira já serviu de tentativas para enquadrar tanto o Ministério Público como a imprensa. Notem que, nesse ponto, deu-se uma firme aliança entre o ex-presidente Fernando Collor e uma parte do petismo. As duas tentativas, até aqui, fracassaram solenemente. Porém, um fato pode ser afirmado: no Brasil pós ditadura, incluindo a época de Collor, a liberdade de imprensa permaneceu como um valor inquestionável. Isso durou até a denúncia do Mensalão explodir no noticiário.

"Qual o maior interesse político da pesquisa do PSB? Simples: mostrar ao público o tamanho da rejeição à gestão de Luizianne"

"Ou o Ibope entra em acordo com o Ibope ou a avaliação da gestão da petista piorou significativamente em cinco meses".

"As consultas de opinião poderiam dar uma contribuição bem mais positiva à nossa política".


Fábio Campos
Colunista do Jornal O Povo

Nenhum comentário :

Postar um comentário

O blog Quixeramobim Agora é uma ferramenta de informação que tem como características primordiais a imparcialidade e o respeito a liberdade de expressão.

Contudo, em virtude da grande quantidade de comentários anônimos postados por pessoas que se utilizam do anonimato muitas vezes para ferir a honra e a dignidade de outras, a opção "Anônimo" foi desativada.

Agradecemos a compreensão de todos, disponibilizando desde já um endereço de email para quem tiver interesse em enviar sugestões de matérias, críticas ou elogios: jornalismo@sistemamaior.com.br.

Cordialmente,
Departamento de jornalismo