De jornais, há leitores à moda antiga, do tipo que guarda recortes. Alguns analistas políticos ignoram nossa existência, é o que se pode concluir pela maneira precipitada com que vaticinam tantas sentenças irrevogáveis.
Devem supor que – se isso explica a presunção frequente – suas previsões definitivas, impressas no dia anterior, servirão, no dia seguinte, como papel de embrulho e das quiromancias de ontem ninguém mais recordará.
Nos últimos dias, já é possível ler análises cautelosas dos que, até a semana passada, decretavam como “hipótese inexistente” uma eleição disputada para governador do estado. Não foi de um só, o recuo, mas do “time” todo!
Nenhum deveria se confessar tão surpreso: tanto tucanos quanto petistas, que atuam em campos opostos na sucessão presidencial, já desde o início do ano afirmavam que não aceitariam participar de uma mesmo composição.
Por outro lado, o PR de Lúcio Alcântara trabalha há um ano na construção de uma alternativa de oposição, inicialmente com o nome de Roberto Pessoa e, agora, com o do próprio ex-governador, dado o maior poder de fogo.
Por arrogância, vozes governistas saíram por aí, aplicando a versão – do tipo “se colar, colou” – de que não haveria disputa no estado. Depois, por excesso de vaidade, passou o governo a acreditar na boa lenda de sua própria versão.
Versão – vale repetir – que não recebia resistência crítica de setores da imprensa que a difundia com status de verdade definitiva. Para eles, o problema são esses malas com sua mania de guardar recortes de jornais...
Houve, todos lembram, quem receitasse medicação fitoterápica para os nervos dos aliados, conduta própria de quem se julga o senhor dos destinos, como se fosse o Ceará uma capitania recebida em caráter definitivo.
Se andavam esquecidos, o governo e seus editorialistas informais, agora já parecem bem lembrados de que, no jogo do voto, a regra continua a mesma: não basta ser o dono da bola – o juiz está na arquibancada.
Quando a imprensa não informa, deforma.
Há coisas impublicáveis no que tem dito o senador Tasso Jereissati sobre a dinastia dos Ferreira Gomes, seus ex-eternos aliados. São referências grosseiras, de natureza pessoal, e outras, de aspecto moral humilhante.
Se o senador não as diz publicamente, não parece ter colocado nenhuma restrição para que as testemunhas de seus desabafos evitem reproduzi-las, dada a profusão de exemplos citados sem contrapartida de sua contestação.
Os relatos são enriquecidos pela descrição de uma gestualidade agravante que se move na direção do ridículo e citam, com rigor textual, metáforas reservadas aos piores impulsos, de desprezo e ódio, próprio aos inimigos.
Até aí, o problema é deles, que são brancos. Se não se entendem, que vão à missa. Quem, um dia, já se uniu a alguém para operar manobras traiçoeiras não deveria cobrar ao ex-parceiro por uma lealdade negada.
O que nos cabe anotar é: essas coisas não acontecem de repente. Resultam de um processo, crescente, de desgaste. Logo, se muito por lá foi feito para disfarçar o mal estar, faltou, todavia, esforço de elucidação na imprensa.
Havia ali, a ser escrita, a crônica de uma ruptura anunciada. Se não faltou apuração, então faltou transparência. Se não faltou informação, faltou visão crítica. Em todo caso, faltou Imprensa. São queixas de um velho assinante.
Fonte:Pauta Livre
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