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segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Vitória de Bolsonaro reorganiza forças políticas no Ceará

Ao passo que a maioria dos eleitores brasileiros define o próximo chefe do Executivo nacional, um novo cenário político é desenhado no Ceará. Lideranças cearenses alinhadas a Bolsonaro (PSL) são contagiadas pela força do vencedor, ganhando papel de destaque na busca de espaço para a região entre as prioridades do Governo Federal.

Após longos períodos de alinhamento entre governos do Ceará e presidentes da república, o início da segunda gestão de Camilo Santana (PT) no executivo estadual será marcado pela posse de um presidente que faz oposição direta ao petismo.

No cenário desenhado pelos resultados destas eleições, a necessidade de interlocutores entre tais forças antagônicas surge como um dos principais desafios para o Ceará. Expoentes locais do partido de Bolsonaro, como o presidente estadual do PSL e deputado federal eleito Heitor Freire; além de apoiadores do presidente eleito, como o senador eleito Eduardo Girão (PROS) e o deputado federal eleito Capitão Wagner (Pros), ganham destaque.

São nomes que podem assumir papel de mediadores entre governos do Estado e Federal, mas são também oposição fortalecida, cotada inclusive para disputar comando das gestões municipais e estaduais nos próximos anos.

Heitor Freire afirma que um dos objetivos do partido é fortalecer presença local nos próximos anos. "Nós temos que ocupar os espaços. CAs, DCEs, sindicatos, prefeituras. A partir de janeiro de 2019, vamos fortalecer nossas bases em todo o Estado. Vou liderar essa oposição aqui no Ceará a Camilo Santana", afirma, considerando, inclusive, a possibilidade de candidatura própria à prefeitura em 2020. "Eu sigo ordens de Jair Bolsonaro, se ele me der essa ordem, serei sim (candidato a prefeito)."

Apesar dos antagonismos enfáticos, o discurso de priorização do Estado e das necessidades do povo ante às dissidências partidárias sobressai. "Não importa se o governador é um esquerdista, porque eu não gosto dele, deixo isso claro, mas nós iremos governar para o povo brasileiro e para todos os cearenses. O que for bom para o povo cearense, nós vamos trabalhar".

Capitão Wagner (Pros), deputado federal mais votado do Ceará e um dos principais opositores do governo estadual, considera que a interligação entre o Ceará e Executivo nacional vai "mudar de mãos" a partir de 2019, e aponta os nomes que devem conseguir estabelecer diálogos para lutar pelas demandas do Ceará durante a gestão de Bolsonaro.

"Eu acredito que o Eduardo Girão será o link entre o Estado e o presidente da república no Senado. Na Câmara dos deputados a gente tem o Heitor Freire, que é presidente do PSL e coordenador da campanha aqui no Estado", diz. Considerando a função de mediador, Freire pontua alguns dos interesses do Estado que devem ser priorizados na relação com o governo Federal. "Nós não vamos criar nenhum elefante branco, nós vamos concluir a transposição do rio São Francisco, cinturão das águas, trazer e fortalecer a polícia do Estado, resolver o problema da segurança pública, trazer investimentos pro Ceará".

Ao traçar o novo cenário, Wagner se posiciona ao lado de Freire como uma presença capaz de trabalhar por pautas do Ceará no Congresso. "Eu acredito que vou ajudar o Heitor nessa interlocução, para que a gente possa conseguir os recursos necessários para a continuidade das obras hídricas, para a continuidade dos investimentos aqui no Estado", afirma.

Eleito senador no Ceará pelo mesmo partido de Wagner, Girão (Pros) declara que fará uma "oposição responsável" aos líderes do governo estadual e se apropria do papel de mediador. "O que nos une é maior do que o que nos separa. Nós temos algumas divergências, mas as convergências são maiores.

Nós vamos usar o diálogo para o estado do Ceará ser beneficiado. A gente vai fazer essas reivindicações para o bem dos cearenses", promete. Mas cobra posturas de Camilo que, segundo ele, facilitariam essa interlocução: "O Ceará vai precisar tomar caminhos que busquem uma gestão mais eficiente. Eu acredito que ele precise mostrar também uma boa vontade nesse aspecto e  procurar ter uma máquina administrativa mais enxuta e mais eficiente".

Já Wagner salienta a necessidade de vencer as diferenças e diz que fará uma oposição "independente", aliada a Bolsonaro, apenas no que considera que beneficie a população. "No pós-eleição a questão partidária tem que ficar em segundo plano. A principal missão nesse primeiro momento do pós-eleição é os vencedores não tripudiarem em cima dos derrotados. O derrotado vai para a oposição, foi assim que a população quis, mas a gente que está vencendo tem que ter humildade, porque o país passa por uma crise econômica e política e vai ser nossa missão tirá-lo disso", conclui. (Do O Povo)

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