Na edição desta semana, a revista Veja trouxe matéria em que desanca contra a prefeita Luizianne Lins, usando, aliás, título de artigo recente, anteriormente publicado aqui – “A casa da mãe Joaninha”.
A expressão, aqui usada com o relativismo sensato do bom humor, foi aplicada, naquela matéria, à moda Veja, isto é, com o indisfarçável escárnio do viés direitista, traço fundamental do perfil editorial daquela publicação.
Não vou entrar no mérito das questões levantadas em acusações diretas da revista contra a ação da prefeitura porque não tenho informações suficientes para confirmar as denúncias, nem a revista se preocupou em oferecê-las.
A prefeitura, tampouco, em extensa nota oficial – página inteira nos jornais locais – ofereceu, em medida proporcional ao peso das acusações, suficientes esclarecimentos sobre elas, refugiando-se no conforto das generalidades.
O que mais chamou atenção na matéria foi a forma descuidada com que estabelece ligações perigosas entre atos administrativos e vida privada da prefeita, nelas envolvendo a mãe, o filho e suas prováveis relações íntimas.
Agindo como cupim da vida alheia e sem apresentar indícios substantivos para o que denuncia, a revista involuntariamente sugere menor crédito para as acusações, reforçando seu histórico de torpeza e parcialidade.
Não há ninguém, fora do círculo de compromisso com a gestão, que defenda de modo veemente o desempenho da prefeita. Isso, hoje. Suas realizações, por mais que ela conteste, contrariaram as mais modestas expectativas.
Mas, se a matéria de Veja tiver o dedo de quem mais se interessa pelo seu fracasso, cabe, então, o conselho (inútil, talvez, porque gratuito): escolham melhores armas, se não quiserem fabricar uma vítima inoportuna.
É na ausência de um maior esforço planejador e nos descompassos gerenciais nas realizações físicas, nos gargalos da ação social e seus respectivos índices de desempenho, que a oposição deveria se ater.
Com vinte e tantos anos de experiência democrática, a sociedade cada vez menos atenção dedica a esses justiçamentos públicos, quando não se sustentam em fatos comprovados e desvios de maior dimensão.
Escaldada com o ecumenismo com que os escândalos salpicam seus odores igualmente sobre direita e esquerda, a sociedade se orienta por critérios mais pragmáticos e quer saber o que, afinal, cada um tem a lhe oferecer.
Se o comportamento público da prefeita, descuidada na exposição de sua vida privada, dá margem a tentativas de desconstrução moral, que se cuide mais, ela. Mas cuide-se a oposição também para não produzir um cristo.
Como gestora, Luizianne Lins pode ser um alvo frágil, mesmo cercada de apoios expressivos dentro e fora do seu partido, mas, como vítima, ela já provou capacidade de neutralizar resistências e cooptar apoios. Não é por aí.
Fonte:Pauta Livre - Ricardo Alcântara
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