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sexta-feira, 23 de julho de 2010

Morte de 20 toneladas de peixes preocupa criadores

Iguatu Produtores de tilápia em gaiolas instaladas em açudes públicos, no Centro-Sul, estão preocupados com a mortandade de peixe. O fenômeno acontece nos meses de junho e julho e vem se repetindo nos últimos três anos. Os criadores já contabilizam a morte de cerca de 20 toneladas de peixes. Recentemente, três grupos comunitários de produção e dois projetos privados implantados nos açudes Orós, Trussu, nesta cidade, e Olho D´Água, em Várzea Alegre, enfrentaram prejuízo em torno de R$ 60 mil.

Milhares de peixes morreram nos reservatórios. No Açude Trussu, zona rural de Iguatu, o produtor Ernani Lima teve um prejuízo elevado com a mortandade de todo o pescado que estava em 140 gaiolas. O prejuízo estimado foi de cinco toneladas. "Perdi tudo. Houve uma inversão térmica e não deu tempo de fazer nada". O projeto privado foi implantado em 2005, mas essa foi a primeira vez que o problema aconteceu.

Os criadores apelam para que técnicos e engenheiros de órgãos públicos orientem sobre medidas preventivas para que não ocorra a repetição do problema. "Precisamos de ajuda, pois somos pequenos produtores, mas, juntos, representamos muito para a economia regional", disse a produtora Raimunda Vieira Rodrigues, da localidade de Jurema, em Orós.

Em face dos elevados prejuízos, os produtores mostram-se preocupados com o vencimento de parcelas do financiamento bancário dos projetos. Apesar das dificuldades, a maioria mantém a disposição de continuar com a produção. A criação de tilápia em gaiolas nos açudes públicos na região Centro-Sul representa uma importante fonte de renda para cerca de 500 famílias. Em seis anos, a atividade cresceu consideravelmente e permanece em expansão. A produção regional estimada é de 150 toneladas por mês. Uma característica marcante é que o trabalho é feito de maneira associativa. Daí a importância desses projetos para a economia regional.

Na localidade de Jurema, na bacia do Açude Orós, a produtora Raimunda Vieira Rodrigues disse que está desanimada. "Essa é a segunda vez que isso acontece, mas até agora não recebemos nenhuma orientação técnica", observou. "Uma empresa nos forneceu alevinos e outra disse que vai nos ajudar com fornecimento da ração".

No projeto comunitário de criação de tilápias em tanques redes, no Açude Olho D´água, em Várzea Alegre, de um total de 73 mil peixes, 56 mil morreram em junho passado. O prejuízo foi de 10 mil quilos de pescado, que foram enterrados em valas. Em 2008, quando o fenômeno ocorreu pela primeira vez, das 75 gaiolas, com 90 mil peixes, foram perdidos 23 mil quilos de pescado.

Tragédia

Para o produtor Vicente Menezes, o prejuízo, pela segunda vez consecutiva em dois anos, deixou os 20 associados preocupados. "Com duas tragédias seguidas, os criadores ficam desacreditados", disse. "Há uma desconfiança geral na viabilidade econômica do projeto de criação de tilápia em cativeiro".

Apesar das dificuldades enfrentadas, o grupo produtivo do Açude Olho D´água decidiu não solicitar ao Banco do Nordeste, que financiou o projeto, o adiamento do vencimento das parcelas do empréstimo. "Vamos fazer um esforço para pagar em dia, para evitarmos cobrança de juros", disse Menezes. Por ano, o grupo paga a quantia de R$ 13 mil pelo financiamento coletivo, e cada produtor R$ 7 mil, pelo empréstimo individual.

Quando ocorre a mortandade generalizada das tilápias, os produtores ficam, em média, seis meses sem produzir e sem obter renda. Este é o tempo necessário para que o pescado atinja a fase de comercialização, com tamanho e peso adequados. O prejuízo não é apenas direto com a morte dos peixes, mas por meses seguidos.

Conforme relatos, os peixes deixam de se alimentar, a água fica turva e a mortandade ocorre rápido, de um dia para outro. O fenômeno se verifica no período frio, nos meses de junho e julho, e está associado a ventos fortes. Ainda segundo os criadores, ocorre uma inversão térmica na água. A camada debaixo fica mais quente, sobe, e se apresenta com reduzida oxigenação. O primeiro sinal de alerta é que o peixe deixa de se alimentar. Por instinto de sobrevivência, procura fazer uma reserva de oxigênio no organismo. O processo de mudança da água é rápido e, sem estrutura de conservação fora dos açudes, pouco ou quase nada resta para os pescadores fazerem.

Preocupado com a possibilidade de que o fenômeno possa acontecer novamente, Ernani Lima disse que irá adquirir um compressor e implantar um sistema de aeração nas gaiolas para oxigenar a água quando necessário. O projeto segue o modelo do que é feito em aquários, mas só que em larga escala.

O professor de Ciências Biológicas da Universidade Regional do Cariri (Urca), Ênio Melo, explica que, à época da construção do Açude Olho D´Água, a vegetação não desmatada foi encoberta pela cheia do reservatório e a matéria orgânica decomposta interfere na dinâmica do comportamento físico e químico da água. Outro fator, segundo ele, é que a atividade da piscicultura deve ser precedida de um estudo de diagnóstico ambiental do açude, para que seja identificada claramente a qualidade da água do reservatório e o comportamento dos mecanismos físico-químicos, para que exista maior segurança da prática da atividade. Segundo informações dos piscicultores, esses estudos não foram realizados. Na bacia do Açude Orós, a localidade de Jurema é uma das áreas que concentra maior número de associações de produtores de tilápia. São sete grupos e 80 famílias trabalhando na criação e beneficiamento do pescado.

Fonte: Jornal Diário do Nordeste

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