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quarta-feira, 21 de julho de 2010

Cursos de Medicina: proliferação compromete saúde

Medicina: o poder de salvar vidas. Essa relação é essencial para que os estudantes de Medicina tenham a consciência do exercício de sua profissão, apoiados em uma estrutura de aprendizagem competente. No Ceará, existem sete escolas médicas: quatro em Fortaleza e três no interior. Atualmente, as condições disponíveis para a execução da parte prática dos cursos não condiz com o volume de profissionais. Há um número excessivo de cursos e uma carência de hospitais universitários, o principal suporte para a formação de bons médicos.

A superlotação do internato, período dos dois últimos anos do curso de Medicina, que possibilita a vivência cotidiana do aluno nos hospitais de grande porte, é um dos reflexos dessa “enxurrada” de futuros médicos. “A situação é clara quando temos, por exemplo, no manual do Hospital Geral de Fortaleza (HGF), a definição que cada aluno precisa atender entre dois e cinco pacientes para ter uma variedade de conhecimento e uma constância de atendimentos. Isso não vem acontecendo, porque são muitos alunos da UFC, UECE e outras duas instituições privadas”, denunciou o estudante do terceiro semestre do curso de Medicina da Universidade Estadual do Ceará (Uece), José Ernando de Sousa Filho.

Segundo Ernando, os hospitais da Capital não conseguem atender os quatro cursos. “Nas próximas turmas que estarão se formando, os dois cursos particulares terão mais médicos do que os dos públicos. Alguns cursos surgiram com a promessa de criar-se uma estrutura que suprisse as necessidades práticas, porém, até lá, a situação vivida é outra”, constatou.

MÉTODOS DE ENSINO
O teste de progresso, método que avalia a aquisição de conhecimento Médico ao longo dos anos de graduação, é uma das falhas na formação dos atuais estudantes no Ceará. O teste não é aplicado em nenhum dos cursos de Medicina do Estado.“Na maioria das vezes, as avaliações são apenas de escolha múltipla, até no período de residência é assim. Isso impede que o estudante mostre sua real capacidade, inclusive a inteligência emocional que precisa existir na atuação profissional”, descreveu.

Segundo a professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), Goretti Ribeiro, o ensino de Medicina deve ser voltado à prática. “O estudante precisa ter a vivência da profissão e para isso as universidades devem estar relacionadas ao Sistema Único de Saúde (SUS), onde encontram-se os campos de prática primária e secundária”, explicou. Para ela, a estrutura de ensino tem mudado nos últimos tempos. “O currículo do estudante não pode ser mais somente transmissão de conhecimento teórico, foca-se em uma compreensão do processo de saúde que restringe o uso do remédio e potencializa a prevenção”, disse.

CONSELHOS
De acordo com pesquisa do Conselho Federal de Medicina (CFM), em Fortaleza existe um médico para cada 373 habitantes e, no interior do Estado, essa proporção é de um médico para cada 4.949 pessoas. “Há dez anos o curso de Medicina só era oferecido em uma universidade, e para lidar com esse novo volume de estudantes, a estrutura precisa ampliar-se. O problema da falta dos hospitais angustia o aluno, que não poderá desempenhar suas atividades como deveria”, afirmou Ivan.

Além do aspecto físico, o presidente do Cremec ressaltou que é preciso que haja ainda uma congruência entre os professores que auxiliarão os alunos e o hospital de aprendizagem. “Essa é uma demanda que já está sendo discutida entre os conselhos, as escolas e as secretarias de saúde. As vagas para residência médica também precisarão ser aumentadas”.

Fonte:O Estado

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