"Isso para mim beira a insubordinação. É um ato de desobediência e um desrespeito a ordem judicial. Já há uma determinação pessoal, minha, ao secretário (da Segurança Pública, Roberto Monteiro) para que o ponto seja cortado". A afirmação foi feita, ontem, pelo governador do Estado, Cid Gomes, em rápida entrevista à Imprensa, no Palácio Iracema, após a solenidade de posse dos novos 74 delegados e 216 escrivães da Polícia Civil. Cid se referiu à greve dos policiais civis reiniciada na semana passada.A direção do Sindicato dos Polícias Civis (Sinpoci) tentou protestar dentro do Palácio Iracema durante a solenidade. Contudo, a segurança do Palácio, formada por PMs da Casa Militar, impediu a entrada dos manifestantes e eles tiveram que protestar contra o Governo em frente a entrada dos convidados.
Exibindo uma faixa com a frase "Sr. Governador. Pegue leve, policial corrupto não faz greve", em uma alusão a frase de Cid Gomes, durante a visita do Presidente Lula ao Ceará, os sindicalistas foram observados de perto por policiais militares fardados e da segurança pessoal do governador.
Irritação
No seu discurso para os novos delegados e escrivães, Cid exaltou as ações do governo na área da Segurança Pública, quando foram investidos, segundo ele, R$ 243 milhões, em dois anos e meio, contra R$ 80 milhões nos quatro anos do governo anterior. No fim da solenidade, durante a rápida entrevista coletiva à Imprensa, o governador demonstrou irritação quando o assunto passou a ser a nova greve da categoria.
Para Cid Gomes, não há mais espaço para negociação se o tema for aumento de salário. "O governo tem, em todas as oportunidades, dado aumentos diferenciados, além da expectativa da inflação, especificamente para os policiais civis", ressaltou. Cid destacou ainda que outro aumento foi concedido a categoria, no início de 2008, com ganho real de quase 25%.
"Não é possível você ficar o tempo todo dando aumento diferenciado para a categoria... Essa é a segunda greve que eles fazem em menos de 45 dias. A Justiça já considerou ilegal e determinou a volta ao trabalho e eles tiveram uma postura que não é de quem atua na área de Segurança e deve zelar pela lei, se escondendo do oficial de Justiça para não serem intimados".
Cid não descartou a possibilidade do Governo entrar com uma nova liminar pedindo a ilegalidade da greve.
DELEGADA ESCLARECE
Deprotur não atua como plantonista
"A Delegacia de Proteção ao Turista (Deprotur) nunca trabalhou em regime de plantão. Nós temos um atendimento especialíssimo, nos finais de semana e nos dias úteis, durante a noite, tão somente para os casos orientação aos turistas ou extremamente urgentes".
A declaração foi dada à Reportagem do Diário do Nordeste, pela delegada Adriana Arruda, titular da Deprotur. O objetivo da delegada foi esclarecer a população sobre a informação repassada pelo Sindicatos dos Policiais Civis (Sinpoci) de que a Especializada está funcionando no regime de "plantão da greve" à noite e nos fins de semana.
Durante o último sábado e domingo, a Deprotur aparecia na lista de delegacias que estariam de plantão. A reportagem do Diário visitou todas as delegacias para verificar o atendimento e foi surpreendida com a Especializada fechada, com apenas um inspetor fazendo o atendimento ao público.
Adriana Arruda reitera que a Deprotur não "burlou o movimento paredista" ao não abrir suas portas a noite e nos fins de semana. "Nos surpreende o Sinpoci ´escalar´ a Deprotur em regime de plantão nos fins de semana, uma vez que a diretoria já esteve lá e constatou que a delegacia nunca funcionou como plantão", destacou.
A delegada acrescentou que interpreta essa atitude da diretoria do Sinpoci, "como uma forma de tumultuar ainda mais a situação da Segurança Pública nos fins de semana. Como é que se ´escala´ uma delegacia que não tem nenhuma estrutura para plantão? Quando eles (Sinpoci) fazem isso, cientes de que a delegacia nunca trabalhou no plantão, você provoca um caos, porque acaba sendo apenas uma delegacia, no caso 0 30º DP (Conjunto São Cristóvão), trabalhando sozinha para atender Fortaleza inteira".
Por cima
A delegada salientou que a delegacia sempre consta nas listas do Sinpoci como plantonista durante e greve, "Embora o presidente do Sinpoci tenha plena ciência que a Deprotur nunca funcionou nesse regime".
Para Adriana Arruda, agindo dessa forma "o Sinpoci está passando por cima do delegado superintendente e do diretor do Departamento de Polícia Especializada (DPE), fazendo uma escala, como se a Deprotur fosse plantonista", disse.
PREJUÍZO SOCIAL
População continua sendo afetadaA dificuldade da população para encontrar uma delegacia onde estivessem sendo realizados procedimentos continuava ontem, após um fim de semana tumultuado pela greve dos policiais civis. Pela manhã, algumas das delegacias listadas pelo Sindicato dos Policiais Civis (Sinpoci) como responsáveis pelos procedimentos não estavam obedecendo à escala da greve. "Eu já passei por duas delegacias que deveriam estar funcionando hoje e não consegui nada", reclamou a doméstica Antônia Gildênia Teixeira, 37.
Gildênia precisava, apenas, tirar uma guia cadavérica complementar para poder liberar o corpo do pai, de 85 anos, falecido no último domingo de causas naturais. "Estou sofrendo, minha família também. Tudo o que queremos é sepultar o meu pai para que ele descanse em paz. Mas isso está ficando cada vez mais difícil", lamentou.
A ´saga´ de Gildênia começou às 5 horas, no prédio do Serviço de Verificação de Óbito (SVO), em Messejana (zona sul da Capital) onde ela foi informada de que necessitaria de uma guia complementar para liberação do corpo do pai.
"No SVO me disseram que eu fosse para o 8º DP, no José Walter, porque lá estava o plantão da greve durante a madrugada. Cheguei lá e tudo já estava sendo transferido para outra delegacia. Me informaram, então, que eu devia seguir para o 13º DP, na Cidade dos Funcionários, porque era a delegacia que ia assumir o plantão da greve", contou.
No 13º DP, a doméstica foi avisada de que a delegacia não estava atendendo à escala estabelecida pelo Sinpoci. "Isso é uma falta de respeito. Enquanto eu gasto dinheiro e perco meu tempo rodando a cidade toda para tirar essa guia, o corpo do meu pai está lá, preso no SVO", disse. Do 13º DP, novo dissabor, Gildênia foi encaminhada para o 1º DP, no Bairro Elleri (zona oeste da Capital).
No 1º DP, o atendimento estava sendo realizado normalmente, conforme a escala estabelecida pelos grevistas. O delegado Vagner Diniz Leite, titular daquela distrital, afirmou que todos os procedimentos que chegassem ali seriam realizados. "Até agora só fizemos Boletins de Ocorrência (B.Os.). Foram 12 em uma hora e meia, a maioria por perda de documentos. Não chegou nenhum flagrante ainda", ressaltou Diniz.
Segundo o delegado, dois escrivães estavam trabalhando ontem, durante o dia, naquela delegacia distrital. Na noite passada, a situação voltou a se complicar, como apenas uma delegacia da Capital e outra, da Região metropolitana, abertas ao público para a realização de flagrantes e a expedição de guias e formulação de B.Os.
Na manhã de domingo último, a suspensão do atendimentos nas delegacias consideradas Pólos Plantonistas resultou num acúmulo de serviço na única distrital que estava de portas abertas, o 30º DP (São Cristóvão). Por volta de 11 horas, a situação ali era de filas de pessoas aguardando o registro de queixas. Do lado de fora, várias viaturas da Polícia Militar e até um dos rabecões da Perícia Forense do Estado (Pefoce).
Suspendeu
No dia 5 do mês passado, o juiz de Direito, Carlos Augusto Gomes Correia, titular da 7ª Vara da Fazenda Pública do Estado do Ceará, determinou o fim da greve dos policiais civis, iniciada no dia 23 de julho. Mas, os representantes do Sinpoci desaparecera, da sede da entidade para que não fossem intimados da decisão judicial.
Somente uma semana depois, (dia 12), os sindicalistas foram encontrados e notificados, dando por encerrada a paralisação. Os policiais reclamam da falta de diálogo do governo do Estado com a categoria e lutam para serem beneficiados com aumento salarial nos mesmos patamares do que foi concedido aos professores da Academia da Polícia Civil e aos médicos legistas. A primeira paralisação durou 21 dias. A segunda chega, hoje, ao quinto dia.
BALANÇO DOS HOMICÍDIOS
Fim de semana com 21 pessoas mortas
Em meio a um fim de semana com a maioria das delegacias fechadas, a Capital e sua Região Metropolitana sofreram com mais um período de muita violência. Entre as 18 horas de sexta-feira passada (11) e o começo da manhã de ontem, 21 pessoas foram assassinadas, entre elas, quatro adolescentes.
Os corpos das vítimas passaram pelo necrotério do Serviço de Verificação de Óbito (SVO), em Messejana, e, posteriormente, liberados para sepultamento. O último cadáver a dar entrada naquele órgão foi o do garçom Evandro Pereira da Silva, 35, assassinado, a pedradas, no Parque Ecológico Rio Branco, no Joaquim Távora.
Para a Polícia, o crime pode estar ligado ao consumo e tráfico de drogas naquele local. Conforme atestaram os peritos da Coordenadoria de Criminalística (CC), da Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce), o garçom foi agredido próximo a um banheiro e o corpo arrastado até um córrego que corta o parque. O caso vai ser investigado pelo 4º DP (Pio XII).
Mais crimes
Em meios aos muitos assassinatos, mais um caso registrado no distrito da Pajuçara, em Maracanaú. Um homem identificado como José Guaracy Pinheiro da Silva, 25, foi executado, com tiros na cabeça, quando bebia em um bar. Um casal que estava ali também ficou ferido.
No Presidente Kennedy, o adolescente Antônio Régis Lima Cavalcante, 15, foi fuzilado na Avenida Sargento Hermínio. Também foi executado o jovem Bruno Queiroz de Lima, 15. O crime ocorreu no Conjunto Marechal Rondon, Caucaia. Outros dois adolescentes foram mortos no Pici e no Acaracuzinho.
(Fonte: Jornal Diário do Nordeste)
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