Luiza é uma das pessoas que acusa Gabriel de assédio sexual. Ela trabalhava para os canais do vereador na internet, e relatou ao repórter Pedro Figueiredo que algumas situações inconvenientes estão registradas nos vídeos em que ela ajudava a gravar.
“Ele me abraçava assim por trás, ‘te amo’ e não sei o que, ‘você é minha amiga’. Beijava o meu rosto, saía de pênis ereto e ia mostrar para o segurança”, relata. “Uma vez, foi no carro que ele começou pedindo para fazer massagem no meu pé. Puxou meu pé e fez massagem. Eu tentava tirar o pé e ele segurava. Aí foi começando a passar a mão nas minhas pernas. Foi para o banco de trás e começou a me agarrar, me morder, me lamber.”
O repórter perguntou se ela era tocada por Gabriel sem autorização, e Luiza confirmou.
“Dá pra ver que ele chegava a passar (a mão). Eu falava: Gabriel, não gosto de gravar esses vídeos, você sabe. E toda vez ele ficava descendo a mão. Cansou de passar a mão na minha bunda. E eu segurando a mão dele. Pedindo e pedindo”, conta.
Após sete meses de trabalho para o vereador, ela acabou procurando um psiquiatra.
“Eu queria tirar minha própria vida, porque eu me sentia culpada. Será que estou usando alguma roupa que está causando isso? Será que a culpa é minha de alguma forma? Aí eu começava a pedir a deus para me levar.”
Outra mulher, que não quis revelar sua identidade, afirma que consentiu o início das relações sexual com Gabriel Monteiro. No meio da relação, o ato evoluiu para um estupro, porque ela diz que pediu para que ele parasse.
“Teve um momento que ele usou força. Me segurou e foi com tudo. Me deixou sem saída. Eu pedindo para ele parar, ele não respeitou o momento em que eu pedi para ele parar.”
Ela continua, relatando a reação de Gabriel: “E ele rindo, ‘é uma brincadeira. Não leva a sério, não. Não fica chateada.”
O repórter perguntou se ela se sentiu abusada. Ela respondeu que sim: “Super abusada. Ele me machucou, agiu com agressão e força física.”
Um funcionário, que também não quis se identificar, contou que era obrigado a cumprir expediente na casa de Gabriel, onde presenciou cenas constrangedoras. Ele diz: “A gente ficava ali na frente e várias vezes ele foi na parte da frente da varanda da casa, e em outros cômodos a gente já viu também, com o órgão sexual para fora. E se vangloriando do tamanho do pênis. E mesmo se masturbando na frente de toda a equipe.”
Outras irregularidades
Em outros detalhes da reportagem, o Fantástico também mostrou que nos vídeos de seu canal no YouTube, Gabriel Monteiro encenava e “dirigia” o que era filmado. Com ajuda de policiais militares, simulou ações de tiroteio e chamou a polícia, orientando o que seria relatado aos oficiais que chegassem.
Em outro vídeo que a reportagem teve acesso ao material bruto, Gabriel é visto orientando uma criança a dizer que está sem comida. Na versão editada, publicada em suas redes sociais, ele leva a menina ao shopping e ouve que “está comendo o que mais gosta”.
Uma perita analisou o material e concluiu que o material bruto e editado são “incompatíveis”.
“A conclusão a que se chega é que esses elementos presentes no vídeo bruto são incompatíveis com a situação de ameaça ou emboscada real. O que se percebe é que há tiros nos dois vídeos, só que esses tiros são distantes dele”, diz Valéria Leal, perita judicial e diretora da ForensePro. “Várias vezes ele orienta ‘vai para lá, filma a favela’. Ele orienta como gravar, onde gravar. Orienta a posição das pessoas. Não parece realmente que ele está sob forte emoção ou numa determinada ação ou atitude ameaçadora.”
Uma pesquisadora que estuda o aumento no número de ex-policiais que se elegeram parlamentares nas últimas eleições vê conflito de interesses em um servidor público se promover nas redes sociais.
“Com a pouca regulamentação no país, essa mistura é muito nociva, porque a gente começa a ver situações em que não há nenhum controle policial, criando e forjando ocorrências, forçando a barra com determinados públicos, criando e fortalecendo essa ideia do policial guerreiro e salvador para ganhar cliques. E a gente vive em uma sociedade com medo, uma sociedade que de forma brusca esses heróis,” analisa Carolina Ricardo, diretora-executiva da ONG Sou da Paz.
Do Repórter Ceará com informações do G1
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