Melhores prefeitos: O Marketing e a realidade

Aconteceu recentemente em Fortaleza, numa solenidade pomposa a entrega de troféu aos trinta e um prefeitos escolhidos como os melhores do Ceará no ano de 2008. A farta lista partiu de uma eleição onde os votantes foram jornalistas, municipalistas, reitores de universidades, políticos de destaque nacional, profissionais liberais, diretores de instituições financeiras, dentre outros. Pena que essa avaliação não leve em conta a opinião dos servidores e da população em geral, mais especificamente a mais carente, a que sente no seu dia a dia as verdadeiras transformações ocorridas ou não nos municípios.

Nos surpreende na análise da referida lista nomes sobre os quais pesam mais do que denuncias, mas sérias investigações do Ministério Público. As acusações são, por exemplo, de desvio de verbas públicas. Boa parte dos municípios os quais seus gestores foram escolhidos como os melhores do Estado não conseguem fechar as contas no final do ano, empregam mal o dinheiro público, atrasam pagamento do funcionalismo, fornecedores e sobrevivem às custas dos recursos federais e estaduais, com a máquina municipal praticamente parada, enferrujada, por que não dizer, sucateada, tentando ainda se recuperar do último pleito eleitoral.

Desculpem-me os votantes, mas, com todo respeito, qual o conhecimento têm essas pessoas da realidade dos municípios cujos gestores foram tidos como os melhores? Visitaram esses municípios? Conversaram com a sua população?Analisaram a qualidade do ensino ofertado às crianças, o tipo de merenda e transporte escolar que são oferecidos ao alunado? Tentaram ser atendidos em algum posto de saúde ou hospital público municipal? Sentiram a podridão de esgotos a céu aberto, analisaram as contas públicas? Não, com certeza.

Que tipo de critérios são considerados realmente? Critérios políticos? Com toda sinceridade, gostaria de conhecer melhor esses critérios para entender certos resultados, porque não dá para entender prefeito sendo processado por crime contra a administração pública, acusado de desvio do dinheiro público, nepotismo, dentre outras práticas criminosas e abomináveis ser eleito como um dos melhores do Ceará? E os piores? Deus nos livre e guarde!

Em tempos onde a “imagem é tudo”, esse troféu é uma boa estratégia de marketing pessoal e principalmente eleitoral. Nós, cidadãos, no entanto, não podemos nos deixar levar sem questionar os fatos. Faz parte da democracia e do exercício da cidadania questionar e fiscalizar a administração pública.

Ano que vem teremos novas eleições, nas quais muitos desses gestores contemplados com o troféu, por mérito ou não, pleitearão novamente cargos públicos para si ou para seus protegidos. Antes que isso aconteça, façamos uma breve análise. Ser um dos melhores do Ceará não significa necessariamente ter sido bom, mas ter sido menos mal. Isso é suficiente?Com a resposta, o eleitor.

(Fonte: Direto ao Assunto - Sérgio Machado)