Cidade e amizade

Elas são amigas pela palavra. Entre tantas afinidades descobertas, a literatura foi das primeiras e as uniu. Quando Joice Nunes e Anna Karine Lima começaram a desenhar um livro coletivo, os nomes surgiram naturalmente. A elas, juntaram-se Flávia Oliveira, Fernanda Meireles, Jorge Pieiro, Natércia Pontes e Mariana Marques, que já tinha publicado um livro sozinha (Transtlântico) e acabou escolhida para organizar a obra conjunta, batizada Metropolis. “Todo mundo que está aqui têm afinidade construída pela palavra seja por blogs, artigos, fanzines, cartas, contos, livros. Temos uma relação uma com cada uma, inclusive com Jorge e Natércia que estão fora”, diz Mariana.

O nome do livro resume o conceito do projeto bancado pelo edital de Literatura da Secretaria de Cultura de Fortaleza de 2011 e com lançamento oficial amanhã, às 18 horas, no Passeio Público. “Cada autor escreveria sobre manhã, tarde e noite num perímetro urbano. As regras do jogo ficaram bem resolvidas na cabeça de cada um, não teve grandes reflexões”, conta Mariana. Fora as conversas virtuais, só teve um encontro tipo “reunião do projeto” no Passeio Público. “Na verdade, os encontros que não eram para falar exatamente sobre o livro, eram os mais importantes”, diz Fernanda.

Velha conhecida da Cidade por seus fanzines e postais poéticos, ela escreveu seus textos na cabeça. No fim do prazo, quando Anna ligou e disse “senta e escreve”, Fernanda pariu tudo de uma vez. Anna foi outra que escreveu num fôlego só. Como de hábito, Mariana mandou seus textos para Joice que mandou para Anna e assim por diante. “Alguém disse: ‘Quem tem amigo não publica livro ruim’. Ninguém aqui tem orgulho besta com texto”, diz Mariana. Metropolis é mesmo um projeto de amigos.

Metrópole difusa
Todos os autores cresceram em Fortaleza. Dois estão vivendo fora daqui – Natércia, em São Paulo, e Jorge em Brasília -, mas as regras da brincadeira nunca definiram de que metrópole o livro trataria. “O tema está difuso mesmo. A grande proposta era deitar esse olhar sobre cidade, cada um sobre a sua”, comenta Joice. Em alguns contos, como em Aterro, de Mariana Marques, que refaz a experiência de cruzar os espigões da Praia de Iracema a nado, ou em Peixes, de Natércia, que se passa no Mucuripe, onde as areias são vitrines do apurado das jangadas e botes na primeira hora do dia, o cenário está explícito.

Em outros contos, como em Amapô, de Joice, não há referência direta a nenhum lugar de Fortaleza, mas cada leitor tem certeza de reconhecer os cenários por onde a prostituta passa quando a cidade acorda. Jorge Pieiro foi por outro caminho. Seus três contos são como um só. O sofrido Manuelito tentando escrever suas memórias pode habitar qualquer cidade. Há ainda referência a outras metrópoles, como o Rio de Janeiro, em Dinossauro, de Natércia.

“Mas Fortaleza fala de todo jeito. Mesmo que me afaste, morando ou não aqui, ela está em todos nós. É uma referência, uma identidade de todo mundo. Nosso conceito de metrópole passa por Fortaleza. Qualquer comparação, relação, o que se contrapõe é Fortaleza. Temos essas impressões dentro da gente”, diz Mariana. Cada uma com seu estilo e referências, as meninas e Jorge, bendito entre as mulheres, construíram um livro fácil, para ler de uma vez e divagar sobre sua experiência de cidade.

Correndo o risco do rótulo, Anna é poesia em prosa; Fernanda é sempre jovem, alegre; Natércia, visceral; Mariana, mais auto-biográfica; Jorge, subjetivo; Joice tem uma pegada urbana e Flávia gosta de contar histórias. Sua A Estória do Passarinho é um dos destaques do livro. Para celebrar esse projeto de amigos costurado por afeto, o lançamento amanhã, no Passeio Público, vai ter música de DJ também amigo, o Estácio, e deve virar festa. É a partir das 18 horas.

SERVIÇO
Metropolis
Editora: La Barca (86 páginas)
Preço: R$ 25 (no lançamento, o livro será vendido por R$ 20, para quem comprar para os amigos)
Venda direta: labarca@labarcaeditora.com.br.

Multimídia
Salomão Santana, do blog Fortalezas, criou um book trailer para Metropolis (Fonte: O Povo Online)