REDIRECIONAMENTO
sexta-feira, 5 de agosto de 2011
Só a bandalheira nos une
Dia desses, vi um debate interessante na TV: jornalistas discutiam por que o povo brasileiro, mesmo submetido a um número infinito de escândalos e falcatruas de nossos governantes, não se revoltava.
O consenso foi de que os casos de corrupção e roubalheira eram tantos, que causavam uma certa preguiça no povão. As pessoas simplesmente não conseguiam acompanhar tantas notícias absurdas.
Tenho outra tese. E a minha consegue ser ainda mais pessimista...
Acho que as pessoas não se revoltam porque têm inveja dos corruptos. A maioria, no lugar deles, faria o mesmo. Ou até pior.
Cheguei à conclusão, infelizmente, de que a desonestidade é a cola que segura nossa sociedade. Sem ela, entraríamos em colapso.
Não tenho provas ou números para embasar minha teoria. Apenas exemplos empíricos do dia a dia.
Vamos a alguns casos práticos, todos ocorridos nos últimos dias:
Perto aqui de casa há um pequeno restaurante, que serve uma comida caseira maravilhosa. A dona do lugar é uma senhora simpática e falante, que chamarei de “Dona I.”.
Dona I. vive reclamando da prefeitura, que não incentiva o turismo local, que promete há anos asfaltar a rua dela e que fechou uma escola no bairro. Parece uma mulher atuante e politizada.
Há alguns dias, fomos ao restaurante. Estava fechado. Havia um sujeito lá, que disse ser o dono do imóvel. Ele nos contou que Dona I. fora despejada. Não pagava o aluguel há quatro anos. E pior: já tinha sido expulsa de outro local por dar o mesmo golpe.
Outra história curiosa: dias atrás, paramos numa floricultura na estrada e compramos várias mudas de plantas.
Ontem, o dono da floricultura veio entregar as plantas. Chegou num caminhão da prefeitura. E ainda me cobrou 15 reais de frete, “pra ajudar no diesel”.
Quer mais?
Conheço uma professora primária que vive num lote ilegal dentro de um parque florestal, assiste TV a cabo por meio de um gato, rouba eletricidade do poste e mata animais silvestres - supostamente protegidos pelo Ibama - para fazer churrasco. Mas vive reclamando do governo.
No meu quarteirão, se não pagarmos uma caixinha cada vez que os lixeiros passam (três vezes por semana), eles simplesmente esquecem o lixo apodrecendo na porta da nossa casa.
Se não dermos a caixinha do pessoal do Departamento de Água, ficamos a seco.
Semana passada, os rapazes que fazem entrega de supermercado aqui no bairro pediram uma ajuda para terminar a casa de um deles, que estava casando e “tinha uma filha pequena pra criar”. Comovidos, colaboramos com dez reais.
Ontem, comentando com um vizinho sobre o valoroso exemplo de solidariedade dos rapazes, descobri que eles dão esse truque há anos. Nem o prédio do Lalau demorou tanto pra ficar pronto.
Fico imaginando o que aconteceria se, de um dia pro outro, a corrupção acabasse no país.
Será que o povo estaria disposto a abrir mão de gatos de TV a cabo, ligações ilegais de eletricidade e caixinhas?
Duvido. Tá bom assim.
Escrito por André Barcinski
Assinar:
Postar comentários
(
Atom
)
Nenhum comentário :
Postar um comentário
O blog Quixeramobim Agora é uma ferramenta de informação que tem como características primordiais a imparcialidade e o respeito a liberdade de expressão.
Contudo, em virtude da grande quantidade de comentários anônimos postados por pessoas que se utilizam do anonimato muitas vezes para ferir a honra e a dignidade de outras, a opção "Anônimo" foi desativada.
Agradecemos a compreensão de todos, disponibilizando desde já um endereço de email para quem tiver interesse em enviar sugestões de matérias, críticas ou elogios: jornalismo@sistemamaior.com.br.
Cordialmente,
Departamento de jornalismo