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domingo, 1 de maio de 2011

A banalização das eleições

A sucessão das eleições a cada dois anos traz ao cidadão um sentimento de enfado. As idéias pouco variam, os temas são despolitizados e perdem seu caráter polêmico. O feroz adversário de ontem é o aliado incondicional de hoje, sem que o eleitor entenda bem as razões da súbita reconciliação. Restam os ataques pessoais e a denúncia nem sempre sincera das mazelas das administrações municipal, estadual ou federal.

No caso da eleição municipal, esse quadro é mais grave, pois é considerada a menos relevante, reforçando uma antiga raiz histórica de desprezo pela vida municipal. Muitos candidatos a prefeito aproveitam para reforçar junto ao eleitorado seus nomes com vistas a uma eleição que consideram mais importante. O objetivo não é vencer, mas sim fazer propaganda para a futura eleição a deputado estadual ou federal com dois anos de antecedência: é uma espécie de "lei de Gerson" eleitoral.

Construir o programa de governo, que deveria representar um importante momento do processo eleitoral, é uma tarefa relegada a um plano secundário. Sendo necessário apresentar algo ao eleitorado, os candidatos redigem às pressas um documento que é mostrado no horário eleitoral gratuito como se fosse produto de debate prolongado com as bases partidárias. Como foi ocorrendo uma pasteurização dos problemas, as soluções seguem o mesmo caminho. Apresentam-se obras irrealizáveis sem se saber quais os recursos orçamentários para esses gastos. É uma espécie de solução virtual da demanda social. E, quando o candidato é cobrado por uma promessa não realizada, a culpa sempre é transferida para outra esfera, estadual ou federal.

As alianças entre os partidos não são estabelecidas devido às afinidades ideológicas -o que justificaria plenamente os acordos. O que conta é o tempo que a coligação terá na televisão. Ou, pior, muito pior, são adotadas formas pouco republicanas, que deixariam envergonhado o velho Catão, como a compra de uma bancada partidária estabelecendo um valor per capita ou o pagamento de uma mesada aos aliados fiéis. Chega-se ao cúmulo de um partido ter uma aliança política no município que é diferente da estabelecida na esfera estadual, que, por sua vez, não é a mesma que foi efetuada no Congresso Nacional.

Marco Villa
Historiador. Professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos. Bacharel e Licenciado em História, Mestre em Sociologia e Doutor em História.

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