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quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Sobre camelos passados e o presente dos tamarindos

Quem não lembra ou ouviu falar do carnaval? Em 1995 a Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense foi campeã carioca com o samba de enredo da carnavalesca Rosa de Magalhães: ”Mais vale um jegue que me carregue, que um camelo que me derrube... lá no Ceará” A Escola trazia a lembrança da “Expedição Redentora” do Nordeste, idealizada por D.Pedro II.

Lembram que tal Escola foi bancada pelos cofres públicos do nosso Estado? Tal enredo retratava a saga vivenciada pela grandiosa Comissão Científica de Exploração, iniciativa do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), enviada à circunscrição do Ceará.

A comitiva foi enviada pelo Imperador do Brasil à província do Ceará, em 1859, com o objetivo de detectar as reais causas da seca, que desde já muito incomodava essas bandas do Norte, como era conhecida essa região. A expedição era composta por vários cientistas, dentre eles o conhecido poeta e historiador Gonçalves Dias e o geólogo Guilherme de Capanema.

Uma das alternativas para se combater o efeito desse flagelo seria a importação de camelos vindos da Argélia, visto que esses animais suportavam grandes cargas e, numa boa marcha, superariam longas distâncias, resistindo à fome e à sede, aptos a vararem pelos nossos sertões. A introdução e a aclimatação dos camelos e dromedários foram feitas por quatro mouros, especialmente treinados para acompanharem o empreendimento e tratar dos animais.

O destino dos 14 camelos seria dividido, metade do grupo para Quixeramobim e a outra metade para Canindé, que antes iria para Sobral. Provavelmente o tamarindeiro - e não a tamareira - foi aqui aclimatado e cultivado, servindo as folhagens como fonte de alimento, visto que esse vegetal é oriundo de regiões de clima quente. Originários da África Equatorial e da Índia, os árabes a chamavam tâmara da Índia, em referência à polpa muito parecida com a da tâmara.

Aqui em Quixeramobim ainda existem esses tamarindeiros, agora centenários. Porte e sombra ornamentam e embelezam a cidade. Porém, ultimamente, elas têm sofrido a ação criminosa de pessoas que só pensam em mostrar a fachada de suas megalomanias. Como só temos isoladamente o Ministério Público, as árvores históricas estão sendo derrubadas ou decepadas diante dos olhos dos poderes constituídos e das instituições de preservação ambiental, no caso o Ibama. Até agora as mesmas nada fizeram para proteger e preservar as referidas árvores da devastação.

Voltando à Comissão Imperial, apesar dos entusiasmos houve total fracasso da experiência e um prejuízo de mais 20 contos de réis para os cofres públicos da Província do Ceará. Os camelos e dromedários que foram enviados a Canindé e Quixeramobim não se adaptaram ao solo e ao clima local. Quase todos morreram de doenças nos cascos, além de vitimados pela lepra, o que pôs um fim o audacioso empreendimento do ”navio do deserto”, novamente substituído pelos sagrados e consagrados jumentos.

Restando os tamarindeiros como testemunha de uma história dentre tantas já vividas nesse sofrido sertão, servindo de fomento para outras histórias. Ainda que na passarela do Sambódromo, misturando, como diz a letra do samba-enredo, sonho, fantasia e ilusão.
Fonte: Antonio Carlos da Cruz - Professor e Integrante do Conselho Fiscal da ONG Iphanaq (
ant.carloscrus@hotmail.com)

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