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quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Marcas da escravidão em Quixeramobim


Apesar das afirmações de que a quantidade de escravos no Ceará era pequena, quando comparada à das províncias cafeeiras, aqui viveram africanos e seus descendentes tecendo relações diversas com seus proprietários. Mão-de-obra para os serviços domésticos, agricultores, vítimas de abusos sexuais, conhecedores de ofícios, os escravos não assistiam passivamente a suas realidades; buscavam ser autores de seus próprios destinos.

Os jornais cearenses do século XIX traziam estampados nas últimas páginas anúncios de escravos fugitivos. Muitos homens e mulheres se evadiram de Quixeramobim, carregando consigo apenas a roupa em que estavam vestidos e a coragem de construir vidas diferentes. Outros não precisaram fugir para ser livres, obtiveram essa conquista graças as preocupações que seus donos tinham com a vida após a morte: utilizavam os serviços dos cativos enquanto fossem vivos e determinavam que seriam alforriados após a morte dos donos, como se tal ação fosse assegurar compaixão no julgamento divino.

Maria Tereza de Jesus, morava na Fazenda Flores, faleceu em 1870 deixando forros em seu testamento: José Antonio, Lucinda e a filha dela, Maria. Luís Manoel Rabello, em 1864, ao cumprir as disposições de sua falecida esposa, Francisca Anna d’Araújo, comentou que concedeu a alforria de Francisca, criança de 8 anos de idade, filha natural (termo utilizado quando a paternidade não era reconhecida) de Benedita – que já era liberta – justificando sua ação com a seguinte frase “como ensina a nossa religião nenhuma esmola pode agradar mais a Deus e a sociedade do que aquela que é destinada a libertar os cativos”.

Alexandrina Joaquina da Silva Lôbo, que residia na sede de Quixeramobim, não possuía filhos então resolveu distribuir suas joias, bens e dinheiro para as sobrinhas, filhas de suas irmãs, porém deixou para a mulatinha Ovídia um pedaço de cordão de ouro, uma cruz pequena e uma figa pequena, também de ouro. Caridade ou busca pelo perdão dos pecados? Não saberemos. Porém tal fato ilustra as diferentes nuances que perpassavam as relações entre os habitantes de nossa cidade, que tanto poderiam ser de afeto, violência ou ainda de violência mesclada de caridade.

(Informações obtidas no Arquivo Público do Ceará e na Hemeroteca da Biblioteca Nacional - Do Sertão Para Ser Do Ceará - Foto: David Einstein)

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